Quando o Corpo Fala: Psicossomática na Psicanálise e o Sofrimento Silencioso

Você já sentiu algo no corpo que os exames não explicam? Uma dor persistente, um sintoma estranho, ou alterações no apetite e no peso que parecem surgir do nada? Às vezes, o que sentimos no corpo está profundamente ligado ao que sentimos, ou não conseguimos sentir, na alma.

Na psicanálise, essa conexão é estudada pela psicossomática, uma área que compreende como o sofrimento psíquico pode se expressar fisicamente. Esse é um campo de escuta que não separa o que pensamos, sentimos e vivemos em nosso corpo, mas busca compreender a totalidade da experiência humana — especialmente quando ela se mostra através de sintomas.

O que é psicossomática?

Psicossomática é um termo que une duas dimensões: psique (mente) e soma (corpo). Ele se refere a sintomas físicos que, muitas vezes, não têm uma causa médica evidente, mas que estão ligados a vivências emocionais não simbolizadas, isto é, que não puderam ser expressas ou elaboradas psiquicamente.

Na clínica psicanalítica, não buscamos interpretar o corpo como um código fixo ou simbólico, mas como um campo de expressão do que não encontrou palavras. E quando o que se sente não pode ser pensado, o corpo, muitas vezes, adoece.

Transtornos alimentares: quando o corpo carrega o indizível

Um campo clínico onde essas questões se tornam visíveis é o dos transtornos alimentares. O alimento, o corpo, a fome e o controle passam a ser meios de expressão de sofrimentos que muitas vezes não puderam ser elaborados ou sequer reconhecidos.

Restrição alimentar, compulsão, vômitos induzidos, ou mesmo uma oscilação constante de peso, podem esconder histórias de dor emocional, traumas, lutos não elaborados, relações difíceis com o próprio corpo ou tentativas inconscientes de silenciar o desejo.

Essas manifestações não são vontades fracas ou falta de disciplina: são formas psíquicas complexas de lidar com aquilo que ainda não pôde ser pensado.

Uma escuta ética, sensível e transformadora:

Na minha prática clínica, a escuta do corpo é sempre atravessada pelo afeto, pela singularidade de cada paciente e pela ética do não julgamento.

Se você tem vivido um sofrimento emocional que parece estar se expressando no corpo, ou se está passando por mudanças na sua relação com a comida e com sua imagem corporal, saiba que há um espaço possível de acolhimento e transformação.

A clínica psicanalítica não promete respostas prontas. Mas oferece uma escuta capaz de transformar o silêncio em palavra, o sintoma em símbolo e a dor em história — sua história.

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Sobre a autora

Sou psicóloga & psicanalista, com atuação voltada para transtornos alimentares, psicossomática e avaliação psicológica para cirurgia bariátrica. Trabalho com escuta clínica profunda e ética, buscando sempre acolher o sujeito em sua singularidade e sofrimento.